A Primeira Guerra Mundial - Completa e em Detalhe
Causas
Nacionalismos e
barreiras ao comércio
No início do século XX, os países da Europa ocidental
atingiram um elevado nível de prosperidade. Contudo, a competição por mercados
de comércio e os impérios à escala mundial levaram ao crescimento dos sentimentos
nacionalistas. Estes geraram enormes tensões políticas entre nações como a França
e a Alemanha, e ameaçaram a estabilidade de Estados multinacionais como era o
caso da Áustria-Hungria. Estas tensões reflectiam-se na propaganda, na corrida
ao armamento entre as grandes potências e no aumento de barreiras e tarifas
comerciais que só contribuíam para agravar o problema.
Início da Guerra
Assassinato em
Sarajevo
O facto de os problemas nacionalistas se terem espalhado
pelas províncias balcânicas do império Austro-Húngaro resultou no agravamento
das relações entre este e a Sérvia, que era vista como patrocinadora daqueles
movimentos nacionalistas. Numa visita a Sarajevo, a capital da província
austro-húngara da Bósnia-Herzegovina, em 28 Junho 1914, o arquiduque Franz
Ferdinand, herdeiro do Império Austro-Húngaro, foi assassinado por um estudante
bósnio, Gavrilo Princip, que era apoiado pela organização nacionalista sérvia «Mão
Negra».
O governo austro-húngaro procurou punir a Sérvia pelo crime,
tendo recebido a promessa de apoio da Alemanha, apesar do perigo de envolver a
Rússia, o principal patrono dos movimentos nacionalistas nos Balcãs. A
Áustria-Hungria apresentou em 23 Julho de 1914 um ultimato à Sérvia, exigindo resposta
em 48 horas. A Sérvia, após conselho russo, aceitou todas as exigências com
excepção de duas que punham em causa a sua soberania. Entretanto, os exércitos
austro-húngaros mobilizavam-se junto à fronteira sérvia.
Ataque austríaco a
Belgrado
A Rússia mobilizou as suas forças contra o Império Austro-Húngaro
a 29 Julho. No mesmo dia, a artilharia austríaca bombardeou Belgrado, a capital
sérvia, enquanto a frota alemã de alto mar se transferiu do Báltico para o mar
do Norte. As notícias da mobilização russa chegaram a Berlim a 31 Julho; os
alemães exigiram que os russos cessassem a mobilização das suas tropas, e
pediram à França que confirmasse até às 13 horas do dia seguinte uma posição
neutral no caso de um confronto russo-alemão, apesar daquele país ter um
tratado com os russos. Os planos de guerra alemães previam um ataque devastador
contra a França antes de se concentrarem numa possível invasão russa.
Bélgica
Entretanto, a Alemanha exigia o direito de passagem em território
belga para contrariar possíveis avanços das forças francesas. Asquith, Primeiro-Ministro
inglês, deu ordens para a mobilização em 2 de Agosto e no dia seguinte a Bélgica
rejeitou o pedido alemão e a Alemanha declarou guerra à França. A Alemanha
invadiu a Bélgica a 4 de Agosto, tendo a Inglaterra exigido a retirada: como
não houve resposta formal à exigência inglesa, a Inglaterra e a Alemanha entraram
em guerra a partir da meia-noite do dia 4 de Agosto.
Participação Portuguesa
Interessado em cumprir todos os compromissos ligados à
Aliança Inglesa, Portugal participou nas operações militares em África, entre
hesitações diplomáticas na Europa e crises políticas nacionais. As pesadas
baixas sofridas pelos Aliados em terreno europeu levaram o Governo inglês a
requerer ao Governo português a apreensão dos navios alemães refugiados nos portos
portugueses, pedido atendido por Portugal em Fevereiro de 1916, facto que levou
à declaração de guerra por parte da Alemanha. Neste quadro, Portugal organizou
um corpo expedicionário constituído por 50 000 homens, divididos em dois
contingentes militares, respondendo à convocatória dos Aliados. O intervencionismo
português teve por base a integridade colonial, a ameaça de Espanha no quadro
peninsular e a legitimação da República.
Frente Ocidental,
1914
As operações iniciais dos alemães foram conduzidas de acordo
com o cuidadoso plano Schlieffen, no qual constava o avanço dos exércitos alemães
mais poderosos através da Bélgica, articulados nas Ardenas, enquanto forças
menores estacionadas na Alsácia e na Lorena retirariam se necessário diante dos
franceses. Esta acção faria com que os exércitos franceses tivessem que
abandonar as posições que haviam preparado, tornando o ataque através da
Bélgica e do norte da França mais perigoso e mais difícil de deter.
A resistência dos belgas conteve as forças alemãs durante
dois dias em Liége, mas a cidade seria ocupada a 7 de Agosto e as fortificações
em seu redor dois dias depois. As tropas alemãs ocuparam em seguida metade da Bélgica,
e Bruxelas em 20 de Agosto. As forças belgas retiraram para norte, para
Antuérpia. A fortaleza de Namur, a última barreira entre o avanço alemão e a fronteira
francesa, foi vencida pela artilharia alemã.
O marechal Joseph Joffre, comandante-chefe das forças
francesas, ordenou ofensivas contra a Alsácia e a Lorena a 10 de Agosto, sem resultado.
A pequena Força Expedicionária Inglesa (BEF) sob o comando de John French chegou
a França e descobriu que não existia nenhum plano contra a invasão alemã
através da Bélgica. O quinto exército francês foi obrigado a retirar de
Charleroi a 22 de Agosto e o terceiro e o quarto acabariam por retirar no mesmo
dia. A BEF ficou isolada perto de Mons, tendo sido atacada a 24 de Agosto por
uma força alemã duas a três vezes maior do que seria de esperar. Repelida com
pesadas baixas, a BEF retirou pelo norte de França, enquanto Joffre lutava para
manter unidos os seus exércitos e para transferir tropas para o seu flanco
esquerdo com o objectivo de lançar um contra-ataque. Na sexta feira, 28 de Agosto,
o segundo corpo inglês reforçava o primeiro corpo da BEF sob o comando de Sir
Douglas Haig.
A ocidente, a cavalaria alemã avançava através da Bélgica
até ao rio Lys e para sul em direcção a Lille e Arras numa tentativa de cortar
as comunicações entre a BEF e as suas bases em Bolonha e Dieppe. O comandante
French mudou a sua base para sul, em direcção a St. Nazaire, deixando os portos
do Canal da Mancha à disposição dos alemães. Contudo, o comandante-chefe das
forças alemãs, Helmuth von Moltke, mantinha a intenção de destruir os exércitos
franceses a nordeste de Paris, na esperança de que antes do Outono os alemães se
encontrassem na posição de poder impor as condições de paz.
Joffre lançou uma contra-ofensiva a 5 de Setembro, a leste de
Paris, a qual se tornaria na primeira batalha do Marne, que decorreria entre 6 e
9 de Setembro. No final da semana, os alemães tinham sido empurrados para uma
linha que ia do rio Oise até Verdun. Na Lorena, os alemães também foram
repelidos de Nancy em direcção a Meurthe. Os Aliados atacaram as posições alemãs
ao longo do Aisne a 13 de Setembro, não tendo sido capazes de desalojar as
forças alemãs do Chemin des Dames. As tentativas alemãs para flanquear Verdun permitiram-lhes
criar um vasto saliente em St. Mihiel que mantiveram durante quase toda a guerra.
As linhas da frente começaram a estabilizar entre Reims e os
Alpes à medida que ambos os lados se entrincheiravam no terreno. No norte da França
e na Flandres, sucessivas manobras de flanqueamento mútuas conduziram à chamada
«corrida para o mar», estendendo as linhas de trincheiras em direcção ao mar do
Norte.
Os alemães cercaram em 28 de Setembro a cidade de Antuérpia,
na posse dos belgas, e conquistaram-na a 10 de Outubro. Os belgas retiraram em
direcção a ocidente e tentaram, com o apoio dos Aliados, suster o avanço dos alemães
durante a batalha do Yser, entre 15 e 31 de Outubro. A sua decisão em abrir os
diques em Dixmude, inundando as áreas através das quais as forças alemãs
avançavam, provou ser crucial. Apesar de os alemães terem conseguido conquistar
Dixmude, foram incapazes de atravessar o rio.
Entretanto, os franceses conseguiram fazer os alemães recuar
de Arras, mas a cidade ficou em ruínas. A tentativa final dos alemães para
romper as linhas dos Aliados aconteceu na primeira batalha de Ypres, na qual as
últimas tropas regulares britânicas foram dizimadas, embora nenhum dos lados
tenha conseguido fazer avanços decisivos no terreno. Com a chegada dos reforços
franceses, a 17 de Novembro, os alemães desistiram de tentar furar a linha de defesa
aliada e recolheram às suas posições, para passar o Inverno. Todas as partes em
conflito tinham sofrido muito mais baixas do que esperavam.
Frente Leste, 1914
À medida que as tropas alemãs invadiam a França e a Bélgica,
o primeiro e segundo exércitos russos, sob o comando do general Pavel Rennenkampf
e de Aleksandr Samsonov, lançaram uma poderosa ofensiva contra o leste da
Prússia. Em 25 de Agosto as forças de defesa alemãs retiravam do terreno, tendo
alarmado Berlim. Paul von Hindenburg foi nomeado para comandar as forças no
leste, tendo por chefe de estado-maior Eric Ludendorff; reorganizaram as tropas
e desferiram um contra-ataque na batalha de Tannenberg, a 30 de Agosto, destruindo
o segundo exército russo e obrigando Rennenkampf a voltar à fronteira. Qualquer
vantagem que a Rússia tivesse obtido por mobilizar mais depressa que o esperado
tinha desaparecido.
Entretanto, as ofensivas austro-húngaras desenvolvidas a partir
da Galícia foram repelidas por quatro exércitos russos numa série de batalhas
que envolveram mais de um milhão de homens de cada lado. A ofensiva contra Liubliana
teve como efeito uma retirada temporária das tropas russas, enquanto no leste da
Galícia os exércitos russos sob o comando de Nikolai Russky e Aleksei Brusilov
passavam as fronteiras leste da Áustria e ameaçavam Lemberg. Hindenburg avançou
em direcção à Rússia com uma larga frente entre Wirballen e Augustov numa tentativa
de aliviar a pressão sobre os austríacos. Mas Brusilov conquistou Lemberg, a 3
de Setembro, e o exército austríaco retirou para posições detrás do Vístula e
do San. Von Auffenburg, que defendera Lemberg, deslocou-se para o forte de
Przemysl, e o resto da Galícia caiu nas mãos dos russos enquanto se dava a
batalha do Marne, a ocidente. Entretanto, Hindenburg continuou o seu avanço até
chegar ao Niemen; foi travado aí e forçado a retirar a 27 de Setembro, sofrendo
pesadas baixas.
A cavalaria russa voltou a atravessar a fronteira alemã a 1
de Outubro, e Hindenburg foi chamado para sul para repelir o avanço russo em direcção
a Cracóvia. O sucesso russo aí teria significado abrir as portas da Silésia e
de Viena. Russky estava agora no comando na Polónia, e Ivanov na Galícia, tendo
como tenentes Brusilov e Dmitriev. Hindenburg atacou ao longo das linhas de caminho-de-ferro
que se dirigiam a Varsóvia através de Thorn, Kalisch e Czestochowa, enquanto os
austríacos avançavam através da Galícia. Contudo, um contra-ataque surpresa das
forças russas forçou a esquerda dos alemães a recuar e ameaçou-lhes o centro.
A 3 de Novembro os alemães estavam em retirada e abandonavam
Lodz. Os austríacos tiveram mais sucesso e recuperaram Jaroslaw, tendo libertado
e reabastecido Przemysl, ameaçando Lemberg, mas a retirada alemã no norte
obrigaria as forças austríacas a retirarem também. O avanço russo sobre
Cracóvia foi retomado e a sua cavalaria chegou à cidade a 9 de Novembro.
Hindenburg deslocou as suas forças e atacou a partir de
Thorn, a 18 de Novembro, ameaçando o flanco direito russo. Apesar de o centro
das forças russas ter sido quebrado pelo general August von Mackensen e o
flanco esquerdo ter sido forçado a retirar para Lodz, a cunha aberta nas linhas
russas não foi suficientemente larga, tendo os alemães escapado por pouco a
serem cercados. Mackensen recebeu reforços e os russos saíram de Lodz a 6 de
Dezembro para se prepararem para o assalto alemão a Varsóvia. O avanço alemão
foi contido nos arredores da cidade.
Frente dos Balcãs,
1914
As dificuldades austríacas não se confinavam à frente russa.
A «expedição punitiva» que haviam enviado contra a Sérvia foi desastrosa: poderosas
contra-ofensivas sérvias lançadas pelo marechal Radomir Putnik derrotaram os invasores
na batalha de Drina, em Setembro de 1915, e a 6 de Dezembro os exércitos
austríacos haviam retirado da Sérvia, tendo sofrido 80000 baixas e deixado uma
vez mais Belgrado nas mãos dos sérvios.
Guerra no mar, 1914
O controlo aliado dos mares não podia garantir que todas as
zonas costeiras estivessem a salvo de ataques alemães, assegurando contudo a liberdade
de movimentos dos seus navios mercantes, o que lhes permitia receber abastecimentos
vindos de qualquer parte do mundo, enquanto evitava que as potências centrais tivessem
acesso aos mercados de comércio mundiais. No ínicio da guerra, a frota de alto
mar alemã retirara-se para as suas bases e o plano alemão visava desgastar a
marinha inglesa com uma guerra de atrito, usando submarinos e minas. A primeira
acção naval inglesa séria foi a batalha de Heligoland Bight, a 28 de Agosto, na
qual foram destruídos três cruzadores ligeiros e um contratorpedeiro alemães.
Os alemães não conseguiram melhor no Extremo Oriente, onde
foram obrigados a retirar da base naval chinesa de Tsingtao, em Novembro de
1914, tendo as tropas australianas e neo-zelandesas ocupado as suas colónias no
Pacífico. O almirante Maximilian von Spee atravessou o Pacífico, destacando
dois cruzadores, o Königsberg e o Emden, para apoiar as forças alemãs na África
Oriental e para atacar o comércio inglês no oceano Índico. O Königsberg afundou
o HMS Pegasus em Zanzibar a 20 de Setembro, tendo depois sido bloqueado no rio
Rufigi. O Emden bombardeou Madras de 18 de Setembro e afundou um cruzador russo
em Penang a 18 de Outubro. O Emden acabaria por ser afundado nas ilhas Cocos
pelo cruzador australiano HMAS Sydney a 9 de Novembro de 1914.
Von Spee atingiu a costa sul-americana e encontrou abrigo
nas suas muitas ilhas e enseadas. Derrotou uma esquadra britânica ao largo da
costa chilena em Coronel, a 1 de Novembro, uma acção que causou alarme na opinião
pública britânica. A esquadra de Spee seria derrotada por uma frota inglesa
mais poderosa sob o comando do almirante Sir Doveton Sturdee nas ilhas
Malvinas, a 8 de Dezembro. O seu último navio foi afundado em Março de 1915:
todos os cruzadores alemães que não estavam nos portos de abrigo haviam assim
sido destruídos.
A guerra em África,
1914
A mais pequena colónia alemã em África, o Togo, rendeu-se aos
Aliados a 27 de Agosto. Os Camarões repeliram o primeiro ataque aliado, mas a
27 de Setembro uma operação conjunta anglo-francesa conquistou a capital do
país, Duala, e toda a sua zona costeira. A conquista do sudoeste de África
(hoje Namíbia), sob o domínio alemão, foi muito mais difícil, tendo sido atrasada
por uma séria revolta dos Boers na África do Sul. Uma campanha efectuada por
uma força conjunta inglesa e sul-africana contra a África Oriental sofreu
vários reveses durante 1914, tendo sido necessários quatro anos para os Aliados
conquistarem aquela área.
Frente Ocidental,
1915
Enquanto os franceses iniciavam uma ofensiva em Woevre, os
ingleses atacavam um pequeno saliente das linhas alemãs em Neuve Chapelle, em
Março de 1915. Ambas as ofensivas conheceram pouco sucesso, tendo revelado que as
tácticas militares de antes da guerra eram ineficazes contra as linhas de trincheiras.
O insucesso de uma renovada ofensiva russa nos Cárpatos tornou essencial evitar
a transferência de tropas alemãs para leste, tendo os Aliados decidido atacar
Lille, um importante centro ferroviário que servia para os alemães receberem abastecimentos
com destino à linha da frente ao longo do Aisne e na Flandres.
Em antecipação a este movimento, os alemães lançaram uma ofensiva
sobre a Flandres. Teria então início a segunda batalha de Ypres, tendo-se
assistido pela primeira vez ao uso de gás de cloro na Frente Ocidental. A
ofensiva alemã abrandou nos finais Maio, devido aos ataques dos Aliados perto
de Lens e Lille. Os Aliados conseguiriam ganhar pouco terreno, tendo os alemães
mantido a sua linha em Vimy. As novas tácticas aliadas e os reforços ingleses não
conseguiram desmentir que era sempre mais rápido reforçar as linhas de defesa
do que as tropas atacantes furarem uma linha de trincheiras.
Em Setembro de 1915, os ingleses tinham um milhão de homens
em acção, enquanto os franceses tinham dois milhões espalhados numa frente que
ia de Ypres até ao Somme. Os Aliados lançaram uma grande ofensiva a partir
desta frente, a batalha de Champagne, entre Setembro e Outubro de 1915, com a
intenção de quebrar as linhas de comunicação alemãs entre leste e ocidente. Os
franceses conseguiriam muito pouco, enquanto os ingleses conseguiriam conquistar
Loos, não tendo sido bem sucedidos em Lens. Durante o mês de Outubro sucederam-se
ataques e contra-ataques com poucos resultados no terreno, e as linhas da frente
estabilizaram-se para passar o Inverno.
Frente Oriental, 1915
Durante 1915, o centro da guerra deslocou-se da Frente Ocidental
para a Frente Oriental. A Alemanha chegou à conclusão que poderia ser mais
fácil derrotar a Rússia do que a França, dado que a primeira tinha menos
possibilidades de repor as suas reservas de munições por falta de capacidade
industrial. O saliente formado pela Polónia ocupada pelos russos era uma tentação
estratégica: se as potências centrais conseguissem fazer progressos na Galícia,
as forças russas nos Cárpatos seriam isoladas e os seus exércitos na Polónia
ficariam à mercê de uma ofensiva concertada do norte e do sul.
Além disto, o centro das forças russas, em frente a
Varsóvia, estava enfraquecido em Janeiro de 1915, após os insistentes pedidos
dos Aliados ocidentais para que a Rússia atraísse a atenção dos alemães
estacionados no ocidente através de ataques nos flancos das linhas alemãs e
austríacas colocadas a leste. Mackensen aproveitou esta dispersão para lançar
um feroz ataque ao centro russo em Bolimov, em Fevereiro de 1915, ataque esse
que diminuiria de intensidade com a chegada de reforços russos. Após a queda de
Przemysl, a 22 de Março, os russos puderam então fazer vários assaltos nos
Cárpatos, com algum sucesso, mas a chegada de reforços alemães, em conjunção com
o facto de os russos estarem cada vez mais fracos em armamento e material, deixaram
os estratégicos acessos à Hungria nas mãos de alemães e austríacos.
Mackensen iniciou uma nova ofensiva entre 28 de Abril e 1 de
Maio, com um devastador bombardeamento de artilharia. As defesas russas foram
completamente destruídas e os alemães atravessaram o Biala, conquistando Gorlice
e quebrando a linha de Dmitriev. Este avanço obrigou Brusilov a retirar à
pressa do sopé dos Cárpatos, tendo sofrido pesadas baixas, e a 18 de Maio,
Mackensen tinha tomado a linha do San desde Sieniawa até Jaroslav. A 20 de
Junho as comunicações russas tinham sido cortadas a norte de Lemberg, e a
capital da Galícia caiu mais uma vez na posse dos austríacos a 22 de Junho. O
avanço alemão conseguira todos os seus objectivos, excepto a derrota total do
que restava dos exércitos russos na Galícia, e viravam-se agora para norte,
para a Polónia.
Os alemães planeavam cercar as posições russas na Polónia
com um ataque a Vilna de norte, enquanto os exércitos de Mackensen na Galícia
se moviam em direcção à linha de caminho-de-ferro entre Liubliana e Kovel.
Forças alemãs sob o comando do general Max von Gallwitz avançaram a partir do
norte a 16 de Julho, conquistando Liubliana e Cholm no final do mês. Confrontados
com esta ofensiva convergente, os russos decidiram abandonar a Polónia e evacuaram
Varsóvia a 5 de Agosto. Os combates provocados pela sua retirada deixaram toda
a linha que ia de Brest-Litovsk até Kovno nas mãos dos alemães. Estes
continuaram a avançar até que Russky retomou o comando dos exércitos russos do norte
e estabilizou a linha da frente.
Frente dos Balcãs,
1915: campanha dos Dardanelos
A entrada da Turquia na guerra, ao lado das potências centrais,
no final de 1914, cortara as linhas de abastecimento aliadas para a Rússia, tendo
aumentado o isolamento da Sérvia. Os argumentos para um ataque directo contra a
Turquia através dos Dardanelos eram bastante fortes. Uma ofensiva aliada
poderia prevenir eventuais ataques turcos ao Egipto britânico. A Roménia seria
encorajada a participar na guerra ao lado dos Aliados, sendo que uma vitória aliada
poderia evitar que a Bulgária seguisse as suas inclinações para juntar-se às
potências centrais. Era também importante saber qual seria a posição da Itália,
que ainda não entrara no conflito.
O principal ataque iniciou-se a 25 de Abril, com
desembarques em Gaba Tepe (Anzac Cove) e no cabo Helles, mas o efeito de
surpresa perdeu-se. Os desembarques foram mal executados e confusos, não tendo
conseguido grandes avanços a partir das cabeças-de-ponte. A luta por Gallipoli
traduziu-se por duras campanhas contra as quase impenetráveis posições turcas. Num
segundo ataque, entre 6 e 8 de Maio, bombardeamentos navais não conseguiram destruir
as defesas turcas, tendo os Aliados avançado apenas algumas centenas de metros,
com muitas baixas. No final de Maio, os Aliados tinham perdido mais homens em
Gallipoli do que o total de baixas inglesas durante toda a Guerra da África do Sul.
A 4 de Junho, um terceiro ataque mostrou que só um grande exército poderia
derrotar as determinadas defesas turcas.
Os turcos lançaram fortes ataques durante Junho e Julho, até
que chegaram reforços aliados. A 6 de Agosto estes lançaram um novo ataque contra
Achi Baba, a partir do cabo Helles, como uma manobra de diversão para desviar a
atenção da ofensiva principal, contra Chunuk Bair e a baía de Suvla. Durante
todo o mês sucederam-se ferozes combates, com muitas baixas, e apesar de os
Aliados terem ganho algum terreno não conseguiram abrir uma brecha
significativa nas linhas turcas.
Em Novembro chegou-se á conclusão de que a campanha tinha
sido um enorme fracasso e os Aliados começaram a evacuar a península, tendo os
últimos embarques de tropas em Suvla e Anzac sido efectuados a 18 e 19 de
Dezembro e os embarques do cabo Helles a 8 de Janeiro de 1916.
Expedição aliada a
Salónica
Ambos os lados gastaram grande parte do ano de 1915 em
tentativas diplomáticas para persuadir a Bulgária a entrar na guerra, tendo os búlgaros
exigido em troca concessões territoriais. Como os Aliados só conseguiriam satisfazer
as exigências búlgaras á custa da Sérvia, que era sua aliada, ou da Roménia ou
da Grécia, potenciais aliados, faltava substância às suas promessas. A Alemanha,
por seu turno, oferecia em troca do apoio búlgaro à Macedónia sérvia, Salónica
e o Épiro — uma oferta formalizada num tratado secreto assinado a 17 de Julho
de 1915. Um ataque conjunto austro-germânico foi lançado contra a Sérvia a 19 de
Setembro. Os gregos exigiram que a França e a Inglaterra enviassem 150 000
homens para Salónica, a 21 de Setembro. A Grécia mobilizou-se a 24 de Setembro
e as forças búlgaras estacionadas junto á fronteira invadiram a Sérvia a 11 de
Outubro, dois dias após os alemães terem conquistado Belgrado. As forças aliadas
em Salónica foram incapazes de suster os búlgaros e evitar a perda da Sérvia. A
decisão de ainda assim manter em Salónica uma força aliada ao longo da guerra
fez com que esses soldados não pudessem ter entrado em acção noutros locais
onde eram mais necessários.
Itália
Durante o Inverno e a Primavera de 1915 foram feitos
intensos esforços diplomáticos no sentido de fazer a Itália entrar na guerra.
Apesar de ter obrigações para com a Alemanha e para com o Império Austro-Húngaro,
a Itália manteve-se neutral enquanto negociava concessões territoriais com
ambos os lados. Por fim, os Aliados prometeram territórios austríacos e turcos
e a Itália, em Junho, lançou a sua primeira ofensiva, com um exército
entusiasta mas inexperiente, contra posições austríacas ao longo de Isonzo. O
exército italiano sofreu muitas baixas. Durante Dezembro efectuou mais cinco
ofensivas, sem grandes resultados.
Médio Oriente, 1915
Uma força inglesa da Índia capturou Basra em Novembro de 1914,
e operações turcas em Dezembro não conseguiram desalojá-la. Como os ataques turcos
continuaram entre Abril e Maio, os ingleses decidiram avançar para norte. Em
Julho, o que tinha começado como um avanço limitado transformou-se num avanço
geral sobre Bagdade. O major-general Charles Townshend conquistou Kut-al-Imara
a 29 de Julho, e a 22 de Novembro as forças inglesas chegaram a Ctesiphon, onde
durante dois dias se deram intensos combates que as obrigaram a retirar. As
tropas sobreviventes chegaram a Kut a 5 de Dezembro de 1915, tendo-se iniciado
um cerco que durou 5 meses. Quatro divisões turcas cercaram a cidade e as
forças que tentaram levantar o cerco falharam. Townshend foi obrigado a
render-se a 29 de Abril de 1916.
Frente Ocidental,
1916
No início de 1916, o novo comandante-chefe das forças
alemãs, Erich von Falkenhayn, decidiu lançar uma ofensiva contra a fortaleza
francesa de Verdun. O seu principal objectivo era estabelecer uma campanha de
atrito para desgastar o exército francês, o suporte principal do esforço de guerra
dos Aliados ocidentais. Os alemães iam aplicar uma nova táctica: ataques poderosos
mas limitados tomariam as linhas francesas, e entrincheirar-se-iam de imediato,
esperando a chegada rápida de reforços de artilharia. Os inevitáveis
contra-ataques franceses seriam assim dizimados por defesas bem apoiadas, após
o que o processo se reiniciaria. Um curto mas intenso bombardeamento iniciou-se
a 21 de Fevereiro, de longe o mais feroz da época, que obliterou as primeiras
linhas francesas, interrompendo as trincheiras de comunicação e até alterando a
geografia dos montes. A 25 de Fevereiro os alemães tinham quebrado a frente
francesa em Douaumont, mas foram parados pelas tácticas de defesa do general
Henri Pétain, um dos primeiros comandantes franceses a abandonar a táctica dos
contra-ataques. A segunda fase da batalha iniciou-se com um ataque de nordeste,
a 2 de Março, enquanto os esforços alemães se concentravam nos flancos do
saliente; os franceses recuaram mas logo estabilizaram a sua linha. Os alemães
dispenderam novos esforços a 11 de Maio, mas mesmo assim não conseguiram
grandes avanços em direcção a Douaumont. A terceira fase da batalha começou no
flanco ocidental a 16 Março, com ataques alemães às linhas situadas entre
Avocourt e Béthincourt. Pétain contra-atacou com sucesso, tendo os combates
continuado até 11 de Abril. Nessa altura já era perceptível que a ofensiva alemã
tinha falhado: o mais brutal e terrível combate da guerra custou aos alemães
tantas baixas como aos seus oponentes — tendo Verdun permanecido nas mãos dos
franceses.
A grande ofensiva seguinte na Frente Ocidental foi a batalha
do Somme, entre 1 de Julho e 18 de Novembro de 1916. Esta era a ofensiva para a
qual os «novos exércitos» ingleses se preparavam desde 1915, o Big Push que
iria finalmente quebrar o impasse das trincheiras.
Um bombardeamento de uma semana não conseguiu destruir as
defesas alemãs, e as tropas britânicas, mal treinadas, eram abatidas quando saíam
das trincheiras: mais de 19 000 homens foram mortos no primeiro dia. Durante os
cerca de 4 meses dos confrontos mais sangrentos da guerra, os Aliados só
avançaram 13 km, tendo sofrido mais de um milhão de baixas, entre mortos e
feridos. Esta carnificina foi de igual modo sentida pelos alemães. A batalha
foi também conhecida por ter sido a primeira onde foram usados tanques.
Frente Oriental, 1916
Em Junho pensou-se que a Itália poderia ser dominada se a ofensiva
austríaca de Trentino fosse bem sucedida, e por forma a aliviar esta pressão a
Rússia lançou a brilhante e bem sustentada ofensiva Brusilov, a 3 de Junho. No final
desse mês, os austríacos fugiam para os Cárpatos. Os russos continuaram a
avançar durante Julho e Agosto até que a ofensiva foi parada pela falta de
abastecimentos e de apoio de outros sectores da frente russa. Apesar do enorme sucesso
em termos imediatos, a ofensiva foi em parte responsável pela entrada desastrosa
da Roménia na guerra, e os enormes custos em baixas contribuíram para a
desilusão do povo russo com a guerra, conduzindo à Revolução Russa de 1917. A
rápida série de sucessos russos também conduziu a uma completa revisão da
estrutura de comando das potências centrais: a maioria dos comandantes austríacos
foi substituída por alemães, tendo diminuído o papel da Áustria na coligação durante
o resto da guerra.
Entrada da Roménia na
guerra
Encorajada pelo avanço russo na Bukovina, em Junho 1916, e
pelas ofensivas aliadas a ocidente, a Roménia declarou guerra à Áustria a 27 de
Agosto. A Alemanha, por sua vez, declarou guerra à Roménia no dia seguinte, tendo
a 1 de Setembro sido imitada pela Bulgária. A oportunista iniciativa da Roménia
tinha por único objectivo anexar a Transilvânia, logo invadida. Inicialmente, a
maioria das cidades fronteiriças foi conquistada em duas semanas. As potências
centrais enviaram Falkenhayn no comando do novo nono exército austríaco para fazer
frente ao flanco esquerdo dos romenos e Mackensen em direcção ao sul do
Danúbio, convergindo ambos os exércitos em direcção a Bucareste. Mackensen
avançou para Dobrudja, conquistando Turtukai a 6 de Setembro; as tropas
búlgaras ocuparam Silistria a 9 de Setembro, e em meados de Outubro o exército
romeno estava em plena retirada. Apesar da resistência romena a Falkenhayn na Transilvânia,
a 20 de Outubro, Mackensen furara a linha russo-romena. Constanta foi
abandonada a 22 de Outubro e os russos retiraram para Babatag.
A 21 de Novembro os alemães tinham isolado o saliente romeno
a ocidente e a 27, Mackensen juntara-se a Falkenhayn. Os alemães avançaram para
Bucareste, que cairia a 5 de Dezembro, deixando na posse dos romenos apenas a Moldávia.
Frente Italiana, 1917
Uma tentativa italiana de contornar as defesas austríacas perto
do Bosco di Ternova e de retomar o avanço para leste falhara já em Maio de
1917. Cadorna apelou à Inglaterra e à França, em Julho; só a Inglaterra enviou
alguma artilharia, mas nenhum dos dois países podia dispensar infantaria e os
italianos retomaram o ataque sozinhos, em Agosto. Foram obrigados a recuar por
divisões austríacas vindas da Rússia, e no fim de Setembro as operações de
Cadorna haviam terminado.
Ludendorff transferiu Karl von Bulow da Frente Ocidental
para a frente italiana do Isonzo em Agosto de 1917 e deu-lhe o comando de seis divisões
alemãs e sete austríacas. Von Bulow decidiu dispensar o habitual bombardeamento
de artilharia prévio e confiar em vez disso em tropas de assalto bem escolhidas
para furar as linhas adversárias, deixando que as vagas seguintes lidassem com
as fortificações, então isoladas. Optou pela zona de Caporetto para
experimentar este novo método, pois pensava-se que as tropas italianas aí
colocadas estavam desmoralizadas. A batalha de Caporetto começou a 24 de
Outubro, debaixo de neve e chuva intensas; de facto, as tropas italianas, desmoralizadas,
quebraram quase imediatamente e os alemães depressa atravessaram o Isonzo,
depois a fronteira italiana e avançaram para o Piave, anulando num único dia
todos os ganhos italianos dos dois anos e meio anteriores.
Médio Oriente, 1917
No fim de 1916, os Aliados compreenderam que se queriam obter
progressos nos Balcãs seria necessário esmagar os turcos e, portanto, reforçaram
as suas campanhas na Palestina e na Mesopotâmia. Os ingleses entraram em El Arish
a 20 de Dezembro e capturaram Rafa, a última fortaleza turca no Sinai, a 9 de
Janeiro de 1917. Na Mesopotâmia, novamente forças britânicas avançavam sobre
Bagdade desde Dezembro de 1916, expulsando os turcos da margem direita do
Tigris. Entraram em Kut a 24 de Fevereiro, sem oposição, e em Bagdade a 11 de Março.
No fim de Abril, Bagdade encontrava-se a salvo de qualquer ataque inimigo.
As tropas turcas no Sinai estavam desmoralizadas, os seus
suprimentos escasseavam e a deserção era comum. Os ingleses lançaram uma
ofensiva para impedi-las de recuar para posições mais fortes na Palestina, e
avançaram pela costa em direcção a Gaza. A batalha de Gaza, de 26 de Março a 17
de Abril, fracassou em capturar a cidade e os ingleses sofreram pesadas perdas.
Foi um sério revés, ao qual seguiu-se-lhe um longo período de inactividade. Em
Outubro, o novo comandante inglês, o general Edmund Allenby, organizou uma
ofensiva contra Beersheba, tencionando flanquear as defesas turcas e avançar
sobre Jerusalém. Numa manobra de diversão, bombardeou Gaza a 27 de Outubro, e
depois lançou o ataque a Beersheba, ocupando a cidade a 31 de Outubro. A 7 de
Novembro, Gaza caíra e Jerusalém foi tomada a 9 de Dezembro.
Os EUA entram na
guerra, Abril de 1917
No começo da guerra, houvera muita simpatia pela Alemanha
nos EUA, aumentada pela política marítima da Inglaterra, que interferia com a
navegação mercante dos EUA. Nos primeiros meses de 1915, a Alemanha introduziu
novas directrizes nos ataques dos U-Boot (submarinos) e preveniu os EUA que
poderia dar-se o afundamento de navios neutrais. As implicações disto tornaram-se
evidentes para o público americano quando o navio de passageiros Lusitania foi
afundado por um submarino alemão, a 7 de Maio de 1915, com a perda de 1200 vidas,
incluindo cidadãos americanos; a indignação pública foi tal que a Alemanha
suspendeu a campanha dos seus U-Boot. As relações entre os dois países foram
agravadas por revelações sobre a actividade de agentes alemães nos EUA. O
Partido Republicano atiçou a opinião pública contra a política de estrita
neutralidade do Presidente Woodrow Wilson ao longo de 1916, mas este conseguiu
assegurar a sua reeleição em Novembro. Wilson tentou servir de mediador entre
os dois lados em Dezembro de 1916, mas sem sucesso. A 13 de Janeiro de 1917, o Governo
alemão anunciou que todo o tráfego marítimo em águas da Inglaterra, França e
Itália, e no Mediterrâneo oriental, seria «impedido, por recurso a todas as
armas, sem mais avisos», o que consistia no regresso à guerra submarina sem
restrições. Isto revelou ser demasiado até para Wilson e as relações
diplomáticas com a Alemanha foram cortadas a 3 de Fevereiro. A publicação do
telegrama Zimmermann a 1 de Março enfureceu a opinião pública dos EUA e quando,
pouco depois, submarinos alemães afundaram seis navios norte-americanos, tornou-se
impossível que estes mantivessem a neutralidade: a declaração formal de guerra
foi feita a 6 de Abril. Isto foi de valor económico e industrial imediato para
os Aliados, embora durante muitos meses os EUA não tivessem enviado para a Europa
qualquer contingente de tropas significativo.
Frente Ocidental,
1918
Em Fevereiro, Ludendorff e Hindenburg propuseram um ataque
maciço na Frente Ocidental, para isolar as forças britânicas entre o Somme e o Canal
da Mancha de maneira que pudesse ser dirigido um forte golpe alemão a Paris. Se
por um lado essa estratégia podia implicar custos elevados, por outro os
alemães já não estavam envolvidos na Frente Oriental, enquanto a França se
encontrava no limite dos seus recursos e a Inglaterra tinha as suas forças divididas
pelos conflitos no Médio Oriente e em Itália. Se a estratégia pudesse ser
implementada rapidamente, a guerra estaria terminada antes da chegada em força
de tropas americanas.
A Ofensiva da Primavera alemã foi desencadeada a 21 de Março
de 1918 com um forte assalto ao quinto exército inglês, a segunda batalha do Somme,
que em finais de Abril empurrara os ingleses para uma linha perto de Arras.
Apesar de este assalto inicial não ter conseguido quebrar completamente a linha
aliada, obtivera mais do que qualquer ofensiva aliada durante toda a guerra. A
4 de Abril, os alemães haviam feito 90 000 prisioneiros e capturado 1 300 canhões,
e o quinto exército inglês fora parcialmente destruído. Um segundo ataque alemão,
em Armentiéres, a 9 de Abril, a batalha do Lys, reconquistou a zona de Messines
e enterrou uma profunda cunha na frente inglesa, mas igualmente não conseguiu a
abertura de que Ludendorff necessitava. O Corpo Expedicionário Português,
integrado no sector britânico estacionado na Flandres, sofreu a pesada ofensiva
alemã de 9 de Abril, no momento em que ia ser rendido, após 15 meses de luta intensa
nas trincheiras. A divisão portuguesa sofreu pesadas baixas e foi
desmobilizada, sendo os sobreviventes reintegrados nos vários exércitos Aliados.
Um terceiro ataque alemão a 27 de Maio chegou ao Marne, perto de Château-Thierry,
ficando os alemães a 72 km de Paris — no espaço de dias os franceses haviam perdido
todas as suas conquistas desde 1914.
No entanto, nessa altura, demoras na implementação do plano
alemão implicavam que o balanço de poder se estava a inclinar contra a Alemanha.
A partir do início de Junho, os Aliados começaram a fazer
recuar os alemães. Estes foram atrasados e impedidos de lançar o assalto final até
15 de Julho; o ataque de Ludendorff a Reims foi repelido na segunda batalha do
Marne, e o contra-ataque do marechal Foch, ao comando de uma força conjunta anglo-americana,
empurrou os alemães para lá de Château-Thierry e rebateu o saliente germânico.
O quarto exército inglês lançou uma ofensiva bem sucedida em
Amiens, de 8 a 12 de Agosto, e o avanço aliado prosseguiu uniformemente ao longo
da linha. Um assalto americano ao saliente de S. Mihiel, na posse dos alemães
desde 1914, deu-se na madrugada de 12 de Setembro e removeu essa ameaça a
Verdun. Tanto a Alemanha como a Áustria fizeram aproximações aos EUA, para
conversações de paz, mas a resposta de Wilson não foi encorajadora. Enquanto os
ingleses pressionavam na Flandres, com as ofensivas finais à volta de Ypres iniciadas
a 26 de Setembro, tropas francesas e americanas perseguiam os alemães na linha
de Meuse-Argonne. Durante Outubro continuou o avanço inglês e francês ao longo
de toda a frente, e ofensivas secundárias em Cambrai e Le Cateau empurraram os
alemães para lá das linhas Hindenburg.
Tropas francesas e belgas sob o comando de Degoutte e o segundo
exército inglês sob Plumer atacaram toda a Flandres em Outubro, e a 21 os alemães
tinham recuado para o Lys, diante de Ghent. A retirada germânica era também completa
a sul: Lille e Douai caíam a 17 de Outubro, e a 21 os ingleses avançavam para o
Scheldt. Ludendorff demitia-se cinco dias depois.
Os aliados da Alemanha estavam vencidos no início de
Novembro, e cabia aos alemães enfrentarem sozinhos as batalhas decisivas da guerra.
A linha alemã no Meuse era rompida a 1 de Novembro, e nos dias seguintes os
alemães aproveitaram a sua vantagem, alcançando Sedan a 7 de Novembro. O centro
alemão foi quebrado na batalha do Sambre, iniciada a 1 de Novembro: a 9,
Maubeuge caíra, Tourai era ocupada e a 11 os canadianos capturaram Mons. Às 11
horas da manhã do dia 11 de Novembro, os combates cessaram em toda a Frente
Ocidental, quando o Armistício entrou em vigor.
Frente Italiana, 1918
Os austríacos lançaram uma ofensiva final contra os italianos
no Piave, a 15 Junho, mas um contra-ataque italiano a 2 de Julho contornou o flanco
austríaco e forçou-os a uma retirada geral. Os austríacos fugiram com poucas perdas,
e as cheias do Piave impediram o novo comandante italiano, o general Armando
Diaz, de aproveitar a sua situação de vantagem.
No fim de Outubro, a própria Áustria-Hungria encontrava-se
perto do colapso, mas o exército austríaco em Itália continuava forte.
Reforçado por contingentes de quase todos os países aliados, Diaz lançou a sua
ofensiva final no Piave a 23 de Outubro (também chamada batalha de Vittorio
Veneto). Em alguns dias, os austríacos estavam em plena retirada e a 30 Diaz
quebrara a frente austríaca. A retirada transformou-se em debandada, que acabou
só quando a Áustria-Hungria chegou a um armistício separado com os Aliados, a 4
de Novembro, e as hostilidades cessaram, prenunciando a queda do Império
Austro-Húngaro.
Frente dos Balcãs,
1918
A frente aliada nos Balcãs estivera calma desde a ofensiva
Mai. 1917, e o novo exército grego substituíra largamente franceses e ingleses.
Entretanto, o moral dos búlgaros não era omelhor e o seu governo procurava uma
saída do conflito. Uma ofensiva aliada na região de Vardar rompeu as linhas
búlgaras e um armistício foi assinado em Salónica a 30 Set. Os sérvios entraram
em Nish a 12 Out. e a 1 Nov. em Belgrado.
Médio Oriente, 1918
A seguir à sua captura de Jerusalém, as forças de Allenby
tomaram Jericó a 21 de Fevereiro de 1918 e continuaram o seu avanço através da Palestina
e da Síria. Damasco caiu a 30 de Setembro, os franceses conquistaram Beirute a 7
de Outubro e Aleppo caiu a 26. Entretanto, as forças do general William
Marshall obrigaram o exército turco em Mosul a render-se. Foi assinado um armistício
a 30 de Outubro e os Aliados ocuparam Constantinopla a 1 de Novembro.
Rússia, 1918-19
Depois do Tratado de Brest-Litovsk, em Março de 1918, as
relações entre alemães e bolcheviques foram de associações equívocas a hostilidade
aberta. Durante Abril e Maio, Trotski fez várias tentativas para reunir um Exército
Vermelho para expulsar os alemães da Rússia, mas só a intervenção de um contingente
checoslovaco no sudeste obrigou a Alemanha a chegar a um acordo com Lenine. Os
alemães comprometeram-se a não avançar em direcção a leste para além de uma
linha do golfo da Finlândia ao mar Negro, e os bolcheviques puderam assim
dedicar toda a sua atenção aos checos no Volga. A Ucrânia foi ocupada como província
alemã, mas revoltas generalizadas culminaram no assassinato, a 30 de Julho, do marechal
de campo Von Eichhorn, em Kiev. Lenine assinou mais três tratados com a Alemanha,
mas todos foram repudiados nos tratados de paz que se seguiram ao fim da guerra.
A partir do início de 1918, as relações dos Aliados com os bolcheviques
tinham sido tensas mas amigáveis, e a expedição internacional a Archangel fora
inicialmente aprovada por Trotski. No entanto, em Junho 1918, os bolcheviques exigiram
a retirada de todas as forças aliadas de território russo. Os Aliados fizeram
uma tentativa pouco convincente de ajudar os Russos Brancos contra os bolcheviques,
mas a meio de 1919 era óbvio que estes se encontravam numa posição demasiado
forte, e assim as forças aliadas foram retiradas.
Paz
No fim de Setembro de 1918 era evidente que a ofensiva alemã
no ocidente falhara, enquanto a Bulgária e a Turquia se encontravam à beira da derrota
e a Áustria procurava a paz a qualquer preço. O bloqueio marítimo inglês
trouxera a fome a grande parte da Europa central. Foi empossado um novo governo
alemão, sob um novo chanceler, o príncipe Maximiliano de Baden, para negociar
com os Aliados. A 4 de Outubro, Maximiliano enviou uma nota ao Presidente
Wilson, dos EUA, pedindo um armistício e declarando a aceitação pela Alemanha
dos Catorze Pontos de Wilson como base para conversações de paz. Wilson frisou que
qualquer armistício teria que salvaguardar a superioridade militar dos Aliados,
implicando uma rendição total, e as negociações começaram no fim de Outubro. O
armistício entre a Alemanha e os Aliados foi assinado às 5 horas da manhã do
dia 11 de Novembro de 1918, e os combates na Frente Ocidental cessaram no mesmo
dia.
Tratado de Versalhes |
Os termos do tratado de paz foram negociados separadamente
com cada uma das potências centrais no decurso dos anos seguintes:
Tratado de Versalhes, entre os Aliados e a Alemanha, assinado
a 29 de Junho de 1919, ratificado em Paris a 19 de Janeiro de 1920;
Tratado de St. Germain-en-Laye, entre os Aliados e a Áustria,
assinado a 10 de Setembro de 1919, ratificado em Paris a 16 de Julho de 1920;
Tratado de Trianon, entre os Aliados e a Hungria, assinado a
4 de Junho de 1920;
Tratado de Sévres, entre os Aliados e a Turquia, assinado a
10 de Agosto de 1920, não ratificado e substituído pelo Tratado de Lausana,
entre os Aliados e a Turquia, assinado a 24 Julho de 1923, ratificado no mesmo
ano.
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